domingo, 4 de janeiro de 2009

ONDAS UFO E ORTOTEMIAS

Baseando-nos no farto material recolhido em todo mundo por investigadores e grupos ufológicos, é possível afirmar que existe um núcleo no fenômeno UFO não explicado por causas naturais. Esta certeza, que representa um passo muito importante, conduz de imediato as seguintes perguntas: Qual é a origem certa de fenômeno? Quais as suas motivações? Para tentar se aproximar destas duas questões básicas, devemos limitar-nos aos fatos, buscando interpretar as diferentes pautas de comportamento do fenômeno. A casuística mundial catalogada apresenta um núcleo de evidências que se integram num conjunto único – o que pode ser o melhor dado para um estudo do fenômeno UFO ou simplesmente um resultado efetivo da deformação da investigação em si.

Na década de 70, diversos trabalhos coincidentes foram publicados e divulgados. Esses trabalhos assinalavam que a manifestação do fenômeno UFO era múltipla e, sendo assim, necessitavam de uma catalogação de todas as suas diversas nuances. "Uma árvore não é suficiente para determinarmos como é o bosque".

Mas ao examinar a casuística ufológica, comprovamos de forma contraditória a associação de acontecimentos muito variados: desde a presença de um artefato material, claramente definido, que sobrevoa os céus, até o surpreendente aparecimento de uma criatura com asas que aterroriza a população rural de um Estado norte-americano (O Caso Kelly). Poderíamos então sugerir que são diversos níveis de uma mesma realidade dinâmica e que ainda está longe de ser analisada e catalogada na sua totalidade. No entanto, uma das características do fenômeno possui um comportamento bem definido e, geralmente, são interpretados segundo a opção clássica: uma manifestação tecnológica exterior à espécie humana. Esta presunção poderia classificar, embora parcialmente, muitas das observações conhecidas. De forma quase constante, é possível assinalar certas atitudes de curiosidade frente ao desenvolvimento técnico-humano, logicamente muito condizente com uma manifestação artificial do que de um fenômeno natural. Basta notar como sempre houveram relatos assinalando, por exemplo, a constante manifestação UFO em áreas militares bélicas.

A partir da "Era Moderna dos Discos Voadores" (desde 1947), uma característica passou a ser notável e bastante significativa: em determinados períodos de tempo, as observações de UFOs aumentavam consideravelmente, para depois cair de forma brusca. Produziam-se quase a nível mundial perfilando-se especialmente sobre uma determinada região.

Essa característica do fenômeno passou a ser definida como "onda ufo". Assim uma "onda ufo" corresponde à manifestação do fenômeno, que se desenvolve num breve espaço de tempo (dias, meses, semanas), e se limita a uma área geográfica específica. Os estudos estatísticos que têm sido realizados em torno desta pauta têm catalogado as freqüências destas "ondas ufo" e demonstram seu óbvio caráter de aleatoriedade de manifestação.

Imediatamente, após a divulgação pela mídia de avistamentos ufológicos, freqüentemente tratada de forma sensacionalista e imprópria, a opinião pública costuma sensibilizar-se e surgem grandes quantidades de avistamentos "colaterais", como uma espécie de "contágio". Essa situação pode, inclusive, alcançar o caráter de "onda" ou "febre" de testemunhas, porém o interesse público decresce tão velozmente quanto o aparecimento da "onda ufo".

Neste ponto chegamos a um primeiro problema: o caráter e o significado no contexto geral do desenvolvimento de uma "onda ufo". Se por um lado pode realmente existir uma quantidade de manifestação do fenômeno UFO significativa e que está agrupada num determinado tempo e numa determinada área específica; por outro lado a difusão ufológica poderia estar gerando uma comoção pública e, assim, criando avistamentos que não existem, mas que são produtos da histeria coletiva acerca do assunto. Há várias hipóteses para tentar explicar a característica "onda" do fenômeno UFO:

HIPÓTESE PSICOLÓGICA – Diante da divulgação sensacionalista de um evento ufológico, as pessoas fazem "eco" (uma espécie de feedback gerado pela comoção) do fato e que é motivado por uma necessidade psíquica de identificação. Assim, o público observa uma grande quantidade de UFOs que, obviamente, correspondem a um sugestionamento mental e não à manifestação do fenômeno de fato.

HIPÓTESE SOCIOLÓGICA – Determinados fatos sociais repercutem diretamente em uma maior quantidade de observações de UFOs. Alguns momentos críticos para a humanidade, como guerras, desequilíbrio econômico e social, conflitos, crises, índices de suicídios, etc; inclusive fenômenos de grande transcendência na sociedade atual, como desemprego, influenciam numa maior quantidade de avistamentos que denunciam a presença de UFOs no nosso meio. Existem impagáveis estudos estatísticos onde se estabelece uma correlação entre estes fenômenos sociais e os UFOs.

HIPÓTESE FÍSICA – Existem períodos no tempo em que se pode apreciar uma maior atividade de UFOs, que é uma razão intrínseca à intencionalidade da manifestação ufológica.

A primeira hipótese foi utilizada com excessiva liberdade, tanto por pessoas que pretendiam revelar um "novo fenômeno psicológico", de grande transcendência para a humanidade, como por aqueles meios de comunicação que, depois de divulgar avistamentos de forma inadequada, criticam os mesmos alegando explicações simplistas, como histeria coletiva, loucura geral, etc. Na realidade, a dinâmica e motivações do "contágio ufológico coletivo" diferem da manifestação e presença do fenômeno UFO.

Carl Jung, um dos mais destacados psicólogos e discípulo de Freud, apresentou a teoria do Inconsciente Coletivo. A humanidade possui um legado psíquico comum, determinado no inconsciente. A forma da "mandala", o círculo luminoso mágico (semelhança clara a mais de 90% dos UFOs avistados), que todas as doutrinas religiosas assinalaram como de grande importância através de mitos, lendas e cerimônias, constituiria o fundamento básico para explicar o fenômeno UFO, à luz do "inconsciente coletivo". Esta imagem inconsciente afloraria em momentos de especial necessidade, crise coletiva, descontrole mundial, etc, na forma de UFOs. Jung definiria por isso o fenômeno UFO como "reflexo dos arquétipos inconscientes".

As dificuldades que apresentam a teoria do "reflexo dos arquétipos inconscientes" começam quando os UFOs produzem rastros físicos: marcas no solo, alterações biológicas nos seres vivos, são detectados com meios tecnológicos avançados, como o radar ou sonar (19 de maio de 1986 – A Noite Oficial dos UFOs), e são fotografados e filmados. Arquétipos tendo uma constituição física? A teoria de Jung é, sem dúvida, extremamente importante, tal qual o próprio Jung e o que suas teorias representaram para as Ciências Humanas, e efetivamente explica parte do fenômeno. Mas o próprio Jung assumiu, em vida, que há algumas provas do fenômeno UFO que não admitem quaisquer alternativas a não ser de se aceitar que pode haver alguma realidade física do fenômeno.

A possibilidade de uma resposta sociológica para o fenômeno UFO é realmente interessante. Existem dados comparativos e significativos: os anos de 1946, 1954, 1965 e 1968 assinalam um aumento significativo de demanda de empregos nos Estados Unidos, coincidindo justamente com datas de supostas "ondas ufo". Outros anos com grande quantidade de avistamentos ufológicos também registravam momentos extraordinariamente críticos na política, descontroles sociais e depressões econômicas agudas. Mas tudo isso esbarra, tal qual foi dito acima, nos rastros "físicos" do fenômeno.

A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

A influência dos meios de comunicações no nascimento e desenvolvimento de uma "onda ufo" pode ser crítica. Diante de um aumento de notícias de avistamentos ufológicos, as pessoas se sentem mais propensas para se exporem divulgando suas observações, já que a opinião pública está mais receptiva para tais notícias e podem ser aceitos de melhor forma, diminuindo bastante os riscos do ridículo e desconfiança que se produziriam num âmbito temporal diferente. Mas abusou-se desta hipótese para explicar as "ondas ufos", caindo numa autêntica "síndrome" psíquico-social, que tenta interpretar os UFOs como respostas sociais – que de fato assim o são, indiscutivelmente, em muitas ocasiões.

Foi um investigador espanhol, Eduardo Buelta, num trabalho publicado em outubro de 1962, que começou a interessar-se pela análise das "ondas ufo" e suas freqüências. No seu interessante trabalho, que engloba os avistamentos ufológicos durante um período de dez anos, de 1947 a 1957, ele detectou um aparente deslocamento progressivo dos UFOs para o oriente das zonas geográficas na qual se manifestavam. Buelta escreveu: "Parece que o fenômeno UFO dividiu o globo terrestre em setores alongados de pólo a pólo, como se quisessem cartografar o planeta de forma metódica e cuidadosa, sendo que as aparições numa determinada área geográfica são precedidas da outra ao lado no globo".

O doutor David Saunders estabeleceu uma classificação para o perfil gráfico das "ondas ufo": Um primeiro tipo seria aquele que cresce de forma gradativa até chegar a um nível máximo de atividade, para cair imediatamente. Um segundo tipo tem um perfil médio e simétrico a um eixo imaginário (não há crescimento ou diminuição, mas uma constante quantitativa num determinado período). O terceiro tipo assinalaria as "ondas ufo" que começam bruscamente até alcançar um rápido crescimento para decair progressivamente. Os dois primeiros casos, segundo Saunders, responderiam a verdadeiras "ondas ufo".

No entanto o terceiro, cujo perfil é de um início brusco e queda progressiva, corresponderia justamente a influência dos meios de comunicação sobre o público. Saunders se refere ao fato de que um avistamento isolado, possivelmente real, é divulgado na mídia e o público em geral, por sua vez, tomado pela comoção e uma necessidade psíquica de identificação, começa a ver UFOs em tudo quanto é lugar – é aí que entra a explicação psicológica já citada acima. Com o passar do tempo, a comoção e o interesse do público vai diminuindo (a notícia vai ficando "velha" e esquecida) – o que marca uma queda rápida, porém progressiva, da falsa "onda ufo". É importante salientar que uma falsa "onda ufo" não significa necessariamente que todos os casos catalogados sejam falsos. Podem haver avistamentos e incidentes reais isolados, mas que não constituiriam uma "onda ufo" de fato. Vale lembrar que no auge do "Chupacabras" no Brasil, até cachorro morto no meio da rua por atropelamento virou uma "nova vítima" do insólito predador divulgados em programas televisivos altamente questionáveis, como o Gugu, no SBT.

Ainda, o doutor Saunders selecionou 18.000 casos com informações suficientes da casuística ufológica mundial. Depois de analisá-los e depurá-los, estabeleceu o que considerou como as mais importantes "ondas ufo" a nível mundial (o mês apontado em cada uma das ondas são os "picos" – havendo vários casos em meses anteriores e posteriores):

JULHO DE 1947 – Oeste dos Estados Unidos.
AGOSTO DE 1952 – Leste dos Estados Unidos.
OUTUBRO DE 1954 – França e Europa.
AGOSTO DE 1957 – América do Sul (em outubro de 1957 ocorreu O Caso Villas-Boas e, em janeiro de 1958, O Caso Trindade, entre outros).
AGOSTO DE 1965 – Meio-Oeste dos Estados Unidos.
OUTUBRO DE 1967 – Inglaterra.
NOVEMBRO DE 1972 – África do Sul.

Mas o interessante é que nesta análise Saunders descobriu uma sugestiva correlação: as "ondas ufo" se deslocavam para o leste em períodos de cinco anos aproximadamente. Conclusão muito similar à desenvolvida por Eduardo Buelta, em 1962.

É difícil estabelecer uma cronologia das complexas "ondas ufo". O SOBEPS (Sociedade Belga para o Estudo de Fenômenos Espaciais) estabeleceu estatísticas que assinalam o número de observações ufológicas entre os séculos de 1800 e 1900, sendo o período de maior precisão nestas observações a partir de 1885. As "ondas ufo" que ocorriam justamente nos momentos de grande depressão econômica foram as seguintes: 1885, 1896, 1897, 1905, 1933 e 1934. A grande "onda ufo" de 1897 foi classificada como a mais importante de todo o século XIX. Segue abaixo uma listagem cronológica das "ondas ufo" desenvolvidas em todo o mundo, com suas respectivas características destacáveis:

1885 – Observações de objetos com formato de disco.

1896 a 1897 – Estranhas naves aéreas, similares às descritas nas novelas de Julio Verne, "Robur, O Conquistador" e "O Dono Do Mundo". Estas máquinas pareciam ter sistemas de propulsão contemporâneos para sua época: a vapor, por ar comprimido, etc. Também foram catalogadas presenças de seres que tripulavam os UFOs, os quais eram parecidos com os humanos e que pediam às testemunhas água, azeite, petróleo ou ferramentas.

1905 a 1909 – Observações de UFOs similares a dirigíveis ou zepelins, cujo comportamento estava muito afastado dos habituais terrestres: grande rapidez, manobrabilidade excessivas, estranhas luzes, etc.

1913 a 1914 – Estranhos aparelhos em forma de charuto.

1933 a 1934 – Aviões de características e comportamentos anômalos. Apareciam com freqüência sobre vias de comunicação e, com relativa facilidade, detinham seus motores de até oito hélices visíveis, sustentando-se no ar sem a maior dificuldade. Estes "aviões fantasmas" foram vistos até 1939, porém, a partir de 1934, deixaram de ser extremamente freqüentes.

1945 – O fenômeno dos Foo-fighters.

1946 – Naves cuja aparência se assemelha às armas secretas (bombas voadoras) alemãs tipo V-1 e V-2, observados principalmente sobre o norte da Europa, Grécia e Suíça.

De 1947 a 1972 aconteceram as "ondas ufo" já mencionadas pelo doutor Saunders. Na Espanha destacamos principalmente as produzidas em 1950, 1954, 1965/66, a abundante de 1968/69, 1974/75 e 1978/79, entre outras. Vale destacar que, desde o início da década de 90, há inúmeros registros ufológicos no México, Porto Rico e Equador. No Brasil, durante o incidente envolvendo o Caso Varginha, em 1996, o sul de Minas Gerais foi palco de inúmeros avistamentos.

A HIPÓTESE MARCIANA

No fim dos anos cinqüenta, surgiu a primeira teoria para tentar se explicar a origem dos UFOs. Essa teoria apontava para o fato que a posição astronômica do planeta Marte estava relacionada com a maior ou menor quantidade de avistamentos ufológicos no nosso planeta. Um dos principais investigadores que descobriu esta relação foi o desaparecido Oscar Rey Brea, meteorologista de Galícia.

Segundo Brea, as "ondas ufo" alternariam a cada dois anos, coincidindo justamente com a maior aproximação de Marte – já que Marte se aproxima da Terra a cada vinte e seis meses. Essa constatação foi a base da "teoria bianual do ciclo marciano", na qual posteriormente foi ampliada por Eduardo Buelta e os franceses Jacques Vallée e Aimé Michel. No entanto, os próprios defensores dessa teoria admitiam que nem sempre a aproximação marciana coincidia com uma "onda ufo". Por exemplo: a "onda ufo" de 1968, ocorrida na Espanha, não coincidiu. No entanto, a segunda parte desta "onda ufo", que correspondente ao ano de 1969, coincidiu com a posição marciana de 31 de maio. Este mês foi marcado por uma constante atividade ufológica. A "onda ufo" de outubro de 1973, que afetou quase toda a América do Norte e na qual foram registrados casos considerados clássicos da ufologia nos Estados Unidos, aconteceu justamente no período de aproximação astronômica de Marte.

Outros investigadores também se interessavam por essa possível relação. Em 1973, o investigador valenciano Miguel Guasp publicou um trabalho muito interessante intitulado "Teoria do Processo dos Ovnis". Nela, Guasp analisava e relacionava a aproximação astronômica de Marte e a incidência do fenômeno UFO.

Mas não se trata apenas de pressupor uma origem marciana para o fenômeno UFO diante de uma coincidente manifestação de "ondas ufo" em momentos que o planeta Marte estaria mais próximo da Terra. Houve registros na casuística ufológica que pareciam reforçar tal especulação.

No dia 24 de abril de 1964, em Tioga County, New York (EUA), o jovem fazendeiro Gary Wilcox, num pasto dentro de sua propriedade, teve um surpreendente encontro com um disco tripulado por seres baixinhos e estranhos. Estes seres, depois de recolherem amostras do solo e depositá-las cuidadosamente numa bandeja, disseram-lhe que vinham do planeta Marte e que estavam recolhendo alguns recursos naturais da Terra para pesquisas. Depois de pedir um pouco de fertilizante à testemunha, os seres entraram na nave e decolaram, desaparecendo no céu a grande velocidade.

Este caso parece corroborar com a "hipótese marciana"; porém, a verdade é que os UFOs se manifestam de forma confusa, esquiva e até aparentemente teatral. Tal como o planeta Marte, na casuística encontramos as mais diversas informações sobre o planeta de origem dos extraterrestres. De Marte a Vênus, os extraterrestres chegaram a citar corpos celestes até de fora de nosso sistema para se referirem ao seu local de origem. Talvez estejamos diante de diversas civilizações, ou talvez os próprios extraterrestres promovam esse tipo de confusão deliberadamente por motivos que desconhecemos. Parece ingênuo e absurdo considerar a uns supostos alienígenas "marcianos" nas suas espetaculares "naves discoidais" venham até a Terra, vencendo a distância de 74,5 milhões de quilômetros (posição mais próxima entre Marte e Terra), somente para pedir adubo e dar conselhos impróprios e infantis à humanidade (como alegam muitos "contatados").

A verdade é que não temos o menor conhecimento seguro de qualquer coisa sobre o fenômeno e só nos resta a terrível e abusiva presença dos UFOs e seus humanóides. Sua complexa manifestação parece ser inútil e ilógica. As intenções de nossos misteriosos visitantes não são claras, apesar das múltiplas estatísticas, fórmulas, teorias e intuições que os esforçados investigadores do fenômeno estão desenvolvendo. No entanto, as "ondas ufo" parecem demonstrar uma organização em algum nível, pois o fenômeno se concentra e centraliza suas atividades numa determinada área num determinado tempo.

Quando falamos de UFOs estamos referindo-nos a um fenômeno com características muito particulares, definido principalmente pela sua singularidade e aleatoriedade. A singularidade indica que o fenômeno não se ajusta a nenhum tipo de experiência provocada e não é mais que um fato histórico. A aleatoriedade indica que sua presença e atuação não são previsíveis e, por isso, torna-se praticamente impossível classificá-los dentro dos fenômenos estudados pela metodologia científica.

A manifestação UFO foge a todas tentativas de observações deliberadas, salvo em poucas exceções. Normalmente seus aparecimentos são repentinos e os conhecemos por declarações de testemunhas e alguns vestígios e registros (marcas nos solos, fotografias, etc). Para que o estudo do tema se converta em um fato científico, deve ser objeto de experimentação e compor um modelo previsível que responda a determinadas leis. Todos sabemos que, geralmente, as testemunhas humanas são discutíveis e, em muitas ocasiões, equivocadas com relação à realidade do fenômeno observado.

OS ESFORÇOS DE AIMÉ MICHEL

Desde a década de cinqüenta, em que apareceram os primeiros grupos e investigadores privados atraídos pelas testemunhas que apareciam nos meios de comunicação, surgiram diversas tentativas para superar os problemas já citados – entre os quais o fato do fenômeno UFO não se ajustar a nenhuma categoria científica. O grande objetivo da investigação é, em última análise, superar o estado compilador de informações para a formulação de leis que expliquem o conjunto do fenômeno. Para tanto, muitos pesquisadores buscaram – e ainda buscam – incansavelmente detectar a existência de alguma ordem lógica no fenômeno.

A aproximação mais notável a tal propósito foi realizada pelo investigador francês Aimé Michel, utilizando os dados da "onda ufo" de 1954. Poderíamos dizer que foi um primeiro passo para a estipulação de uma ordem lógica que objetivava encontrar soluções adequadas para o fenômeno UFO. Assim, a descoberta de Aimé Michel significou um passo importante na fixação da possível intencionalidade dos avistamentos ufológicos.

A história diz que foi o escritor Jean Cocteau, numa conversação mantida com Michel, quem lhe sugeriu a possibilidade de que, diante da aparente desordem apresentada pelo conjunto de observações ufológicas na "onda ufo" de 1954, tratasse de analisar as testemunhas correspondentes a um período curto, num dia ou, pelo menos, numa semana.

SURGE A TEORIA DAS ORTOTENIAS

Seguindo esta idéia, Aimé Michel, entre 1956 e 1957, começou a marcar num mapa muito detalhado do território francês, dia por dia, todas as informações de avistamentos ufológicos divulgados na imprensa e em outras fontes – sendo que teve o cuidado de "filtrar" as informações e somente dar relevância aos dados mais confiáveis.

Num primeiro momento, Aimé Michel percebeu que os diferentes lugares onde ocorriam os avistamentos não pareciam ser escolhidos pelo fenômeno ao acaso. Na verdade uma certa quantidade de avistamentos se alinhavam em retas de três, quatro e até seis pontos. Esta disposição surpreendeu Michel, que a denominou ortotenia (do grego "ortotenos", que significa "situado na linha reta"). Na superfície terrestre se formavam linhas de máxima curvatura, que na linguagem marinha se chama de ortodrómica: a distância mais curta entre dois pontos da superfície do globo. Os meridianos, por exemplo, são linhas ortodrómicas.

Além do possível caráter puramente casual de alguns alinhamentos, Michel constata um fato muito característico. As "ortotenias" têm uma duração de um só dia, cessando a meia-noite e dispondo-se de forma totalmente diferente no dia seguinte. É importante entender que a "ortotenia" traçada não corresponde à trajetória ininterrupta de um só UFO, nem estão situadas as observações de uma mesma linha seguindo uma ordem cronológica. Era como se o fenômeno escolhesse uma área específica para cada dia de manifestação.

As diversas formações ortotênicas compõem figuras estreladas, cujos pontos de união Michel denominou de "centros de dispersão". Em tais centros, sistematicamente, se informava a presença de um "charuto voador". Essa coincidência foi um grande indício de que Michel estava encontrando uma ordem lógica. Os UFOs conhecidos como "charuto voador", segundo a literatura especializada, são classificados como possíveis naves-mãe, em virtude de sua função de albergar outros corpos menores.

Um evento muito característico é o de Vernon. Na noite de 22 e 23 de agosto de 1954, o senhor Bernard Miserey, comerciante de Vernon, departamento do Eure, França, regressou a sua casa guardando o carro na garagem. Ao sair do veículo, surpreendeu-se com a visão de uma suave luz inundava todo o céu. Era uma espécie de massa luminosa, que permanecia imóvel e silenciosa e que parecia estar flutuando na vertical. Sua forma assemelhava-se a um gigantesco charuto. Enquanto contemplava aquele extraordinário fenômeno, surgiu um objeto em forma de disco que, a princípio, desceu em queda livre. Depois diminuiu a marcha e se dirigiu horizontalmente através do rio. O disco ficava cada vez mais luminoso e se dirigia para sua direção – o que permitiu Bernard contemplá-lo de frente. O objeto estava rodeado por uma espécie de auréola muito luminosa.

Por fim, o objeto desapareceu na direção sudeste em grande velocidade. E, neste momento, um segundo disco se desprendeu da parte inferior do charuto voador com idêntico movimento. Um terceiro e um quarto disco lhe seguiram e, pouco depois, um quinto disco caiu do charuto, que permanecia imóvel. Este último objeto desceu a menor altura que os anteriores, detendo-se um instante sobre uma ponte, enquanto oscilava levemente. Bernard Miserey contemplou com total clareza que a forma do disco era circular e estava rodeava de uma luminosidade vermelha, mais intensa no centro. Depois de uns instantes de imobilidade, o objeto se afastou rapidamente em direção ao Norte – tal qual os UFOs que haviam saído primeiro. A luminosidade do charuto voador tinha desaparecido e o imenso objeto se confundia com a escuridão da noite. A duração daquela singular observação foi de uns quarenta e cinco minutos. No dia seguinte, soube-se que dois agentes da polícia local também tinham contemplado o mesmo fenômeno, porém em horário diferente: 01:00 hora da madrugada.

A partir deste primeiro enfoque de Aimé Michel, que apareceu na sua obra "Os Misteriosos Discos Voadores", outros investigadores em todo o mundo começaram a aplicar a mesma teoria das ortotenias. São destacáveis os trabalhos do doutor Olavo Fontes, sobre a casuística brasileira, principalmente referente ao ano 1960. O estudo demonstra que a rede de alinhamento é similar à descoberta na França por Michel.

O lançamento da obra de Aimé nos Estados Unidos fez que muitos cientistas e investigadores se interessassem pela existência das ortotenias. O doutor David Saunders, antigo membro do Comitê Condon, realizou um estudo sobre a notabilidade do denominado alinhamento "BAVIC". Esse alinhamento foi formado por seis observações no território Francês, em disposição retilínea perfeita, indo da cidade de Baieux e Vichy. O doutor David Saunders estendeu esse alinhamento por todo o globo e chegou a conclusão de que a coincidência era bastante significativa. Na Espanha, Antonio Felix Ares de Blas e David Garcia López, entre outros, utilizaram a teoria de Michel aplicando-as na "ondas ufo" ibéricas de 1950, 1968 e 1969. Nas "ondas ufo" de 1968 e 1969, apesar de não existirem linhas por cima dos quatro pontos, distinguiu-se um "foco de dispersão" no Mediterrâneo que coincidia justamente nas observações de determinados países europeus.

Foram aplicados diversos argumentos para encontrar uma explicação natural à "concentração" de observações em certos períodos e, portanto, à hipótese ortotênica. Durante uma sessão da Academia de Medicina de Paris, em 16 de novembro de 1954, o doutor George Heuyer, professor de psiquiatria infantil, leu um comunicado que explica em extremos de psicose coletiva os avistamentos de UFOs daquele ano. Baseando seus argumentos principais no "duplo delírio", segundo o qual uma pessoa "indutora" (doente mental) influencia determinadas idéias sobre outro denominado "induzido" (alguém habitualmente sugestionável) e, com isso, criam-se fatos inexistentes que extrapolam aos diversos segmentos sociais: família, casa, bairro, e assim sucessivamente. Estas idéias sugestivas se propagaram progressivamente.

Segundo Heuyer, a psicose dos UFOs pode nascer de três elementos principais: uma idéia falsa, o medo que requer respostas e as condições do grupo e do meio. O grupo será composto pelos débeis mentais: segundo Heuyer, seriam uns 400.000 na França da época. Indubitavelmente, a teoria do "delírio dual" teve repercussão na época, apesar da sua aparente lógica, sem explicar satisfatoriamente todos os fatos. Dados como a manifestação ortotênica, as provas físicas recolhidas em alguns avistamentos de UFOs, as investigações dos governos motivadas por objetos detectados nos radares do Controle de Tráfego Aéreo, etc, são exemplos sólidos não explicáveis pela psiquiatria. No seu trabalho ortotênico, Aimé Michel pode ter feito um descobrimento capital que, apesar das múltiplas controvérsias, ainda é extremamente importante para a ufologia e deve ser seriamente considerado.

No seu livro "Os Fenômenos Insólitos do Espaço" ("Lês Phénomenes Insolites De L'espace", publicado por Edições "La Table Ronde", em 1967), Jacques Vallée escreve "resta saber se a possibilidade da sua aparição pelo acaso não foi consideravelmente subestimada". Vallée teve a idéia de simular num computador uma "onda UFO", semelhante a ocorrida em 1954. Utilizando um método totalmente automático, a fim de eliminar o que chamou de "variável psicológica do pesquisador", colocou pontos ao acaso sobre uma superfície esférica representando a França. Em seguida, procurou determinar se houveram alinhamentos. Resultado: Vallée obteve uma linha de cinco pontos, cinco linhas de quatro pontos e vinte linhas de três pontos. Este experimento de Jacques Vallée prova que os alinhamentos podem efetivamente ser frutos do simples acaso. Vale ressaltar que Vallée nunca conseguiu um alinhamento de seis pontos, como o "BAVIC". Seria o alinhamento "BAVIC" um indício de intencionalidade ou uma formação ao acaso que não ocorreu no estudo de Vallée?

A TEORIA DOS CORREDORES

Os investigadores franceses Charles Garreau e Raymond Lavier, afirmam que os UFOs aterrissam segundo um plano rigoroso: França e, sem dúvida, outras regiões parecem estar situadas abaixo de uma rede invisível, onda as malhas quadradas teriam 61.116 quilômetros de lado. Aproximadamente 80% das aterrissagens recolhidas durante vinte e oito anos, situam-se sobre o que podemos chamar de corredores de vôo permanente. Este trabalho começou a tomar corpo quando o investigador Raymond Lavier comparou três observações ufológicas de aterrissagem sucedidas em Poncey (1954), Marliens (1967) e Brazeyen-Morvam (1958). Estes locais são eqüidistantes de 43.200 quilômetros entre si. Além disso, estavam situados em duas perpendiculares. Os investigadores franceses quadricularam (lado de 43.200 quilômetros) um mapa do Instituto Geográfico. Incluíram-se todas as aterrissagens cadastradas até o momento e claramente apareceu a existência de corredores permanentes.

Posteriormente, comparou-se este trabalho com o realizado pelo investigador neozelandês Capitão Bruce Cathie, que tinha descoberto no seu país uma quadrícula de 61.116 quilômetros, à que denominou de "Harmonic 33". Este esquema se superpunha exatamente ao quadriculado dos investigadores franceses, que era o suporte principal, e tinha como diagonais dois corredores descobertos. A distância de uma semidiagonal de uma quadrícula de 61.116 quilômetros é igual a 43.200 quilômetros, que é a mesma para a distância medida no mapa de aterrissagem da França.

Poderia-se atribuir aleatoriedade a uma parte do aparecimento dos mencionados "corredores" e suas malhas, mas qualquer tentativa de interpretação lógica do fenômeno é digna de se ter em consideração. Dentro da casuística ufológica, recolhida desde 1947, destacamos significativos dados nos quais a intenção exploratória, suas amostras tecnológicas e recursos parecem evidentes. O doutor Olavo Fontes, a propósito das ortotenias sobre o Brasil, assinalava:

"As linhas ortotênicas incluíam a localização das maiores estradas, de artérias ferroviárias importantes, diques, represas, centrais elétricas, depósitos de água e, inclusive, destacados centros e bases militares, como Fortaleza, Natal e Recife".

Estas constatações podem ser válidas também em outros lugares do mundo. Não foram poucas vezes que aviões de caça, em missão de proteção de uma base militar, tiveram que interceptar UFOs, assim como o relato de militares sobre as constantes aparições de UFOs sobre depósitos nucleares. Mas afinal, qual é a verdade e a validade desses estudos? Já se especulou até que os UFOs se deslocam dentro de fluxos magnéticos específicos, na atmosfera terrestre, mas nada ficou comprovado até hoje. De fato, por enquanto o fenômeno UFO é uma incógnita total e todo o esforço que objetive encontrar uma ordem lógica é de suma importância.

Reinaldo Stabolito é ufólogo e Coordenador Geral do INFA

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