sábado, 3 de janeiro de 2009

ANDAR SOBRE FOGO

Andar sobre fogo é a atividade de caminhar sobre carvão, pedras ou cinzas quentes sem queimar as solas dos pés. Em algumas culturas (p. ex. na Índia), a caminhada sobre o fogo faz parte de um ritual religioso, e é associada aos poderes místicos dos faquires. Nos EUA, faz parte de uma religião New Age, a das atividades motivacionais de auto-ajuda.

Tony Robbins popularizou a caminhada sobre o fogo como uma atividade que demonstra às pessoas ser possível fazer coisas que, para elas, parecem impossíveis. Andar sobre fogo é uma técnica para transformar o medo em poder. Robbins, no entanto, não considera paranormal o poder da mente de superar o medo de queimar-se. Vencer esse medo é apresentado como um passo na reestruturação da mente da pessoa, quase como se esse batismo de fogo fosse algum tipo de iniciação num grupo esotérico e muito especial de audazes. Para os tímidos, e os que se sentem impotentes no meio de todos os revolucionários que os cercam, um feito como o de andar sobre brasas deve parecer um evento significativo.

Robbins pode ter popularizado a caminhada sobre o fogo, mas Tolly Burkan, fundador do The Firewalking Institute for Research and Education [Instituto da Caminhada Sobre Fogo de Pesquisa e Educação], alega ter sido o primeiro a introduzir a prática na América do Norte. Segundo Burkan, andar sobre fogo é "um método de superação de medos, fobias e crenças limitantes".

Atravessar brasas sem se queimar realmente parece impossível para muitas pessoas, mas na verdade não é mais impossível que colocar a mão num forno quente sem se queimar. Contanto que a pessoa mantenha as mãos no ar e não toque no forno, em suas bandejas de metal ou algum pote de metal ou cerâmica, ela não se queimará, mesmo se o forno estiver muito quente. Ou, caso toque no forno, bandejas ou potes de metal, e esteja usando luvas isolantes, também não se queimará. Por que? Porque "o ar tem baixa capacidade térmica e conduz mal o calor..." enquanto que "nosso corpo tem uma capacidade térmica relativamente alta..." (Leikind and McCarthy, 188). E um isolador isola! Assim, mesmo se as brasas estiverem muito quentes (1.000 a 1.200 graus), uma pessoa com solas "normais" não se queimará, contanto que não demore muito a cruzar as brasas e contanto que o carvão utilizado não tenha uma capacidade térmica muito elevada. Rochas vulcânicas e certos tipos de lenha funcionam muito bem.

Além disso, "tanto a madeira quanto o carvão são bons isolantes térmicos... A madeira continua sendo um bom isolante mesmo quando está em chamas, e o carvão isola quase quatro vezes melhor que a madeira seca. Também as cinzas que ficam após a queima são tão más condutoras quanto a madeira ou o carvão" (Willey).

Apesar disso, algumas pessoas realmente se queimam ao andar sobre brasas, não porque lhes falte fé ou força-de-vontade, mas porque o carvão está quente demais ou tem capacidade térmica relativamente alta, ou porque as solas dos pés do caminhante são finas ou porque ele não se move rápido o bastante. Mas é possível caminhar mesmo sobre brasas com alta capacidade térmica sem se queimar, se os pés da pessoa estiverem isolados com, por exemplo, um líquido como suor ou água. (Pense em como se pode molhar um dedo e tocar num ferro quente sem se queimar.) Mais uma vez, é preciso que a pessoa se mova com velocidade suficiente para que não se queime.

Porém, mesmo munindo-se desses conhecimentos, ainda é preciso coragem para andar sobre fogo. Quando Michael Shermer, da revista Skeptic, caminhou sobre o fogo para o programa de televisão "The Unexplained”, possuía o conhecimento, mas o medo obviamente ainda estava presente. Nossos instintos nos dizem: não faça isso, idiota! Andar sobre fogo exige um pouco de fé, assim como conhecimento: fé de que as brasas estão preparadas adequadamente, de que se pode mover rápido o bastante para evitar queimar-se, e de que as coisas funcionarão na prática como se estudam na teoria. De qualquer forma, se o caminhante se queima ou não depende de como as brasas foram preparadas e do quão rápido ele se move, e não de força-de-vontade, do poder da mente em criar um escudo protetor, ou de qualquer força paranormal ou sobrenatural.


leitura adicional

Christopher, Milbourne. ESP, Seers & Psychics (Thomas Y. Crowell Co. 1970).

Leikind, Bernard J. e William J. McCarthy. "An Investigation of Firewalking," em The Hundredth Monkey and Other Paradigms of the Paranormal, ed. Kendrick Frazier (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1991).

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