- O Homem Que Inventou os Discos Voadores
- Em 1947, o editor de Amazing Stories assistia surpreso enquanto as coisas que ele tinha estado inventando durante anos em sua revista subitamente se tornavam realidade!
- por John A. Keel
- O "Pé Grande" da América do Norte não era nada além de uma lenda indígena até que um zoologista chamado Ivan T. Sanderson começou a coletar avistamentos contemporâneos da criatura no início dos anos 50, publicando os relatos em uma série de artigos em revistas populares. Ele transformou o bípede alto e peludo em uma palavra comum, da mesma forma que o autor britânico Rupert T. Gould redescobriu serpentes do mar nos anos trinta e, através de suas transmissões de rádio, artigos e livros, trouxe o Lago Ness à atenção do mundo. Outro escritor chamado Vincent Gaddis originou o Triângulo das Bermudas no livro dele de 1965, Horizontes Invisíveis: Mistérios estranhos do Mar. Sanderson e Charles Berlitz acrescentaram depois à lenda do Triângulo, e reescrever os livros deles se tornou uma indústria artesanal entre escritores nos Estados Unidos.
Charles Fort pôs material na mesa de gerações de escritores de ficção científica quando, em seu livro de 1931 Lo!, agrupou muitos relatos de objetos e pessoas estranhamente deslocados no tempo e espaço e cunhou o termo "teleporte". E foi necessário um político chamado Ignatius Donnelly para reviver a Atlântida perdida e transformá-la em um assunto popular (mais uma vez, mais uma vez e mais uma vez).1
Mas o homem responsável pelo mais famoso de todos esses mitos modernos - discos voadores - foi de certa forma esquecido. Antes que o primeiro disco voador fosse visto em 1947, ele sugeriu a idéia ao público americano. Então ele converteu relatos de OVNI do que poderia ter sido um fenômeno passageiro bobo em um assunto, e manteve esse assunto vivo durante períodos de total desinteresse público. Seu nome era Raymond A. Palmer.
Nascido em 1911, Ray Palmer sofreu injúrias severas que o deixaram baixo em estatura e parcialmente aleijado. Ele teve uma infância difícil por causa de suas enfermidades e, como muitos garotos isolados nesses dias pré-televisão, ele buscou fuga em "novelas de centavos" [dime novels], revistas baratas impressas em papel de má qualidade e cheias de histórias lúridas de escritores que ganhavam um centavo por palavra. Ele se tornou um ávido fã de ficção científica, e durante a Grande Depressão dos anos trinta era ativo no mundo de fandom - um mundo de fanzines mimeografados e muita correspondência. (Fandom de ficção científica ainda existe e é muito bem organizado com muitas convenções anuais concorridas e fanzines impressos com luxo alguns dos quais são publicados até mesmo semanalmente.) Em 1930, ele vendeu sua primeira história de ficção científica e em 1933 criou o Clube de Prêmio Júlio Verne que concedia prêmios anuais para as melhores realizações em sci-fi. Escritor prolífico com uma imaginação robusta, Palmer pôde ganhar muitos centavos durante os dias negros da Depressão, indubitavelmente balizado pelo seu senso de humor negro, um desenvolvimento afortunado motivado pelos seus infelizes problemas físicos. A dor era sua companheira constante.
Em 1938, a editora Ziff-Davis em Chicago comprou uma revista agonizante intitulada Amazing Stories. Tinha sido criada em 1929 pelo inestimável Hugo Gernsback, que geralmente é reconhecido como o pai de ficção científica moderna. Gernsback, um engenheiro elétrico, dirigiu um pequeno império de publicação de revistas lidando com rádio e assuntos técnicos. (Ele também fundou Sexology, uma revista de pornografia softcore disfarçada como ciência que desfrutou grande sucesso em uma época um tanto conservadora). Era sua prática vender - ou até mesmo dar - uma revista quando sua circulação começava a cair. Embora Amazing Stories fosse uma das melhores de seu gênero, seu público estava abaixo de meros 25.000 quando Gernsback a vendeu para a Ziff-Davis. William B. Ziff decidiu dar as rédeas editoriais a um jovem fã de ficção científica de Milwaukee, Wisconsin. Com 28 anos, Palmer encontrou o trabalho de sua vida.
Ampliando a revista a 200 páginas (e tanto quanto 250 páginas em algumas edições), Palmer deliberadamente a alterou para os gostos de meninos adolescentes. Ele a encheu de itens de não ficção e artigos para preencher espaço sobre ciência e pseudo-ciência além dos contos habituais da fórmula de BEMs (Bug-Eyed Monsters, Monstros com Olhos de Inseto) e moças belas em perigo. Muitas das histórias eram escritas pelo próprio Palmer sob uma variedade de pseudônimos como Festus Pragnell e Thorton Ayre, permitindo que ele completasse seu escasso salário pagando a si mesmo o habitual um centavo por palavra. Os camaradas velhos dele de fandom também contribuíram com histórias à revista com um zelo que ultrapassava de longe seus talentos. De fato, ao redor da dúzia de revistas de ciência sendo então vendidas nas bancas de jornal, Amazing Stories facilmente se classifica como a pior de todas. Seus competidores, como Startling Stories, Thrilling Wonder Stories, Planet Stories e a venerável Astounding (agora renomeada Analog) empregavam escritores profissionais qualificados e experientes como Ray Bradbury, Isaac Asimov e L. Ron Hubbard (que posteriormente criou a Dianética e fundou a Cientologia). Amazing Stories era lixo em comparação e os fãs hardcore de sci-fi tendiam a zombar dela.2
A revista poderia ter sumido pelos anos quarenta, em grande parte ignorada por todos, se não fosse um único incidente. Howard Browne, um roteirista de televisão que serviu como o editor associado de Palmer naqueles dias relembra: "no começo dos anos quarenta, uma carta veio a nós de Dick Shaver que dizia revelar a “verdade” sobre uma raça de monstros chamada "Deros", vivendo debaixo da superfície da terra. Ray Palmer a leu e deu para mim para comentário. Eu li um terço e a joguei na cesta de lixo. Ray, que adorava mostrar para os editores dele um truque ou dois sobre o negócio, pegou-a de volta da cesta, publicou na Amazing e uma inundação de correio afluiu de leitores que insistiam que cada palavra da carta era verdade porque eles tinham sido infortunados por Deros durante anos".3
Na verdade, Palmer tinha acidentalmente atingido uma audiência enorme previamente ignorada. Quase toda comunidade tem pelo menos uma pessoa que constantemente reclama à polícia local que alguém - normalmente um vizinho - está apontando uma terrível arma de raios para sua casa ou apartamento. Este raio, eles dizem, está arruinando a saúde deles, fazendo suas plantas morrer, mofando seu pão, fazendo seu cabelo e dentes cair e transmitindo vozes para dentro de suas cabeças. Os psiquiatras estão muito familiarizados com estas vítimas de "raio" e relacionam o problema com esquizofrenia-paranóide. Geralmente estes paranóicos são inofensivos e normalmente idosos. Porém, ocasionalmente as vozes que eles ouvem urgem que eles executem atos destrutivos, particularmente incêndio criminoso. Eles são um grupo desconfiado, solitários por natureza, e suspeitam de todo o mundo, inclusive do governo e todas as figuras de autoridade. Antigamente eles pensavam que estavam ouvindo a voz de Deus e/ou do Diabo. Hoje eles culpam freqüentemente a CIA ou seres do espaço pelas suas aflições. Eles gravitam naturalmente para causas excêntricas e organizações que refletem seus próprios medos e inseguranças, enquanto defendem filosofias políticas bizarras e reforçam seus peculiares sistemas de crença. Ray Palmer deu sem querer um foco para a vida de milhares destas pessoas.
A longa e vaga carta de Shaver alegava que enquanto ele estava soldando4, ouviu vozes que explicaram a ele como os Deros subterrâneos estavam controlando a vida na superfície da terra pelo uso de raios diabólicos. Palmer reescreveu a carta, fazendo uma pequena novela dela, e ela foi publicada na edição de março de 1945 sob o título: “Eu Me lembro de Lemuria por Richard Shaver”.
O Mistério Shaver nascia.
De alguma maneira as notícias da descoberta de Shaver se espalharam rapidamente além dos círculos de ficção científica e as pessoas que nunca compraram uma revista popular estavam correndo para as bancas de jornal. A demanda por Amazing Stories excedeu e muito a oferta e a Ziff-Davis teve que desviar suprimentos de papel (lembrem-se de que ainda havia escassezes de tempo de guerra) de outras revistas para que pudessem aumentar a impressão de Amazing Stories.
"Palmer viajou para a Pensilvânia para falar com Shaver", Howard Brown recordou, “Encontrou-o sentando em montanhas de materiais que havia escrito sobre Deros, e comprou cada página e fez um contrato por mais. Eu pensei que era o pior material que já havia visto. Palmer o publicou e dobrou a circulação de Amazing dentro de quatro meses”.
Ao final de 1945, Amazing Stories estava vendendo 250.000 cópias por mês, uma circulação surpreendente para uma revista de ficção científica. Palmer trabalhava até tarde da noite reescrevendo o material de Shaver e outros contos sobre Deros sob pseudônimos. Milhares de cartas vieram ao escritório. Muitas delas ofereciam "evidência" apoiando as histórias de Shaver, descrevendo objetos estranhos que eles tinham visto no céu e encontros estranhos que tinham tido com seres alienígenas. Parecia que muitos milhares de pessoas estavam cientes da existência de um grupo não-terrestre distinto entre nós. Fantasias paranóicas estavam misturadas com contos que tinham um incômodo laço de sinceridade. A seção de "Cartas-para-o-editor" era a parte mais interessante da publicação. Aqui está uma contribuição típica da edição de junho de 1946:
Senhores:
Eu voei minha última missão de combate no dia 26 de maio [1945] quando eu fui atingido sobre Bassein e lancei minha nave nas estradas de Ramaree fora da Ilha de Chedubs. Faltavam-me cinco dias. Eu pedi licença a Kashmere (sic). Eu e o Cap. (excluído por pedido do autor) deixamos Srinagar e fomos então para Rudok pela passagem de Khese para os contrafortes do norte de Karakoram. Nós achamos o que procurávamos. Nós sabíamos o que estávamos procurando.
Pelo amor de Deus, desista de tudo! Você está brincando com dinamite. Meu companheiro e eu lutamos para sair da caverna com sub-metralhadoras. Eu tenho duas cicatrizes de 9 polegadas em meu braço esquerdo que vieram de ferimentos que tive na caverna quando estava a 50 pés de qualquer objeto em movimento e em silêncio perfeito. Os músculos quase foram arrancados. Como? Eu não sei. Meu amigo tem um buraco do tamanho de uma moeda de dez centavos em seu bíceps direito. Estava seco por dentro. Como nós não sabemos. Mas nós acreditamos que sabemos mais sobre o Mistério Shaver que qualquer outro par.
Você pode imaginar meu espanto quando eu apanhei minha primeira cópia de Amazing Stories e vi suas palavras gritantes sobre o assunto.
A identidade do autor desta carta foi retida a pedido do autor. Posteriormente Palmer revelou seu nome: Fred Lee Crisman. Ele havia descrito inadvertidamente os efeitos de um raio laser - embora o laser só fosse inventado anos depois. Aparentemente Crisman era obcecado com Deros e raios da morte [death rays] muito antes de Kenneth Arnold avistar o "primeiro" OVNI em junho de 1947.
Em setembro de 1946, Amazing Stories publicou um artigo curto por W.C. Hefferlin, “Avião de Asa Circular” [Circle-Winged Plane], descrevendo experiências com uma aeronave circular em 1927 em São Francisco. A contribuição de Shaver (Palmer) nessa edição foi uma estória de 30.000 palavras, "Escravos Terrestres para o Espaço" [Earth Slaves to Space], tratando de espaçonaves que regularmente visitaram a Terra para seqüestrar humanos e carregá-los para outro planeta. Outras histórias descreveram amnésia, um elemento importante nos relatos OVNI que ocorreriam apenas em um futuro distante, e homens misteriosos que supostamente serviriam como agentes para esses Deros hostis.
Uma carta do tenente do exército Ellis L. Lyon na edição de setembro de 1946 expressou preocupação sobre o impacto psicológico do Mistério Shaver.
O que me preocupa é que há alguns, e talvez número bastante grande de leitores que podem aceitar este Mistério Shaver como sendo fundado em fato, até mesmo como Orson Welles fez em sua invasão de Marte, através do rádio alguns anos atrás. É obviamente impossível para o leitor distinguir em suas seções "Discussões" e "Comentários de Leitores" quais cartas são de leitores e quais são em verdade de escritores da Amazing Stories, criadas para manter vivo o interesse em suas teorias fictícias. Porém, se as cartas geralmente forem o trabalho de leitores, é preocupante ver a reação que vocês causaram nos cérebros confusos deles. Eu me refiro às cartas de pessoas que "viram" os rastros de foguetes ou "sentiram" a influência de radiações de fontes subterrâneas.
|
Palmer nomeou artistas para fazer esboços de objetos descritos por leitores e máquinas voadoras em forma de disco apareceram nas capas de suas revistas muito antes de junho de 1947. Assim nós podemos notar que um número considerável de pessoas - milhões - foi exposta ao conceito de discos voadores antes que a mídia nacional tomasse consciência dele. Qualquer um que olhasse as revistas em uma banca de jornal e tomasse um olhar rápido da capa de Amazing Stories adornada de discos voadores teve a imagem implantada dentro de seu subconsciente. No curso dos dois anos entre março de 1945 e junho de 1947, milhões de americanos viram pelo menos um exemplar de Amazing Stories e conheciam o Mistério Shaver com todas suas implicações tantalizantes. Muitas destas pessoas estavam observando os céus vazios na esperança de que eles, como outros leitores de Amazing Stories, também pudessem ter o relance de algo fascinante. A Segunda Guerra Mundial terminara e as pessoas queriam uma nova excitação. Raymond Palmer a estava fornecendo - para o alarme do tenente Lyon e Fred Crisman.
Dois outros grupos estavam prontos para servir como estrutura para os crentes aparte dos leitores de Palmer. Aproximadamente 1.500 membros da Sociedade Fortiana Tiffany Thayer sabiam que objetos aéreos estranhos tinham sido avistados ao longo da história e alguns deles estavam convencidos de que este planeta estava sob vigilância de seres de outro mundo. Tiffany Thayer era rigidamente contrária a Franklin Roosevelt e ruidosamente proclamou que quase tudo era uma conspiração do governo, assim seus Fortianos estavam completamente preparados para encontrar conspirações novas escondidas no futuro mistério OVNI. Eles se tornariam peritos imediatos, desejosos de educar a imprensa e público quando o tempo chegou. O segundo grupo eram os espiritualistas e estudantes do oculto, encabeçados pelo Doutor Meade Layne que tinha estado conversando com pessoas do espaço através de médiuns em transe e tábuas Ouija. Eles sabiam que as espaçonaves estavam chegando e não ficaram nada surpreendidos quando "foguetes fantasma" foram relatados sobre a Europa em 1946.5 Combinados, estes três grupos representaram um segmento formidável da população.
No dia 24 de junho de 1947, Kenneth Arnold fez seu famoso avistamento de um grupo de "discos voadores" sobre o monte Rainier, e em Chicago Ray Palmer assistiu com surpresa enquanto os recortes de jornal chegavam de todo estado. As coisas que ele tinha estado inventando para a revista dele estavam subitamente se tornando realidade!
Durante duas semanas, os jornais estavam repletos de relatos de OVNIs. Então eles escassearam e os Fortianos gritaram : Censura!” e "Conspiração!" Mas dúzias de escritores de revista estavam ocupados compilando artigos neste novo assunto e seus trabalhos apareceriam continuamente durante o próximo ano. Um homem, que tinha se sustentado escrevendo para revistas populares nos anos 30 viu a situação como uma chance para adentrar nos "slicks" (revistas de melhor qualidade impressas em papel lustroso ou "slick", como oposto às revistas populares, ou 'pulp'). Embora ele tivesse 44 anos na época de Pearl Harbor, ele serviu como um Capitão nos fuzileiros até que ele teve um acidente aéreo. Dispensado como um Major (era prática promover os oficiais um grau quando eles se aposentavam), ele estava tentando retomar sua carreira de escritor quando Ralph Daigh, editor da revista True, o encarregou de investigar o enigma dos discos voadores. Assim, à idade de 50 anos, Donald E. Keyhhoe entrou na Terra do Nunca. O artigo dele, "Discos Voadores São Reais", causaria uma sensação, e Keyhoe se tornaria uma personalidade OVNI instantânea.
Naquele mesmo ano, Palmer decidiu publicar uma edição de Amazing Stories totalmente dedicada a discos voadores. Ao invés disso, a editora exigiu que ele deixasse todo o assunto de lado depois que, de acordo com Palmer, dois homens em uniformes da Força aérea o visitaram. Palmer decidiu publicar uma revista por sua própria conta. Recrutando a ajuda de Curtis Fuller, editor de uma revista voadora, e alguns outros amigos, ele criou a primeira edição de Fate na primavera de 1948. Uma revista em tamanho de sumário impressa no papel mais barato, Fate era tão mal editada quanto Amazing Stories e não teve nenhum impacto no público leitor. Mas era o único periódico de banca de jornal que publicava relatos de OVNI em todas edições. Os leitores de Amazing Stories apoiaram as primeiras edições de todo o coração.
No outono de 1948, a primeira convenção de discos voadores foi realizada no Labor Temple na 14th Street na cidade de Nova Iorque. Freqüentada por aproximadamente trinta pessoas, a maioria das quais estava ansiosa para pegar a mais recente edição de Fate, a reunião rapidamente se degradou em uma competição de quem gritava mais alto.6 Embora o mistério dos discos voadores tivesse apenas um ano de idade, os assuntos paralelos de conspiração governamental e censura já dominavam a situação por causa de sua forte atração emocional. A Força aérea norte-americana tinha estado quieta ao longo de 1948 enquanto, sem que os defensores de OVNI soubessem, os garotos na Base da Força aérea Wright-Patterson em Ohio estavam fazendo um esforço sincero para desvendar o mistério.
Quando a investigação de Força aérea falhou em trazer à luz qualquer evidência tangível (embora os investigadores tenham aceito a teoria extraterrestre) o General Hoyt Vandenburg, Chefe da Força aérea e ex-chefe da CIA, ordenou um relatório negativo para ser divulgado ao público. O resultado era o Projeto Grudge, centenas de páginas de tolice irrelevante que foi desvelada ao redor do tempo em que a revista True publicou o artigo pró-OVNI de Keyhoe. Keyhoe tomou isto pessoalmente, embora o artigo dele fosse em grande parte uma reedição do livro de Fort, e Ralph Daigh tinha decidido continuar com a hipótese extraterrestre porque parecia ser a teoria mais comercialmente aceitável (isto é, venderia revistas).
Mudando-se para Amherst, Wisconsin, Palmer montou sua própria editora e eventualmente imprimiu muitas das histórias de Shaver nas séries Hidden Worlds. Mas a inflação do pós-guerra e o advento de televisão estavam matando o mercado de revista populares de qualquer maneira. No outono de 1949, centenas de revistas populares cessaram sua publicação de repente, deixando milhares de escritores e editores desempregados. Amazing Stories mudou freqüentemente mãos desde, mas ainda vem sendo publicada e ainda está pagando para seus escritores um centavo por palavra.7
Por alguma razão só conhecida a ele, Palmer escolheu não usar o nome dele em Fate. Ao invés, um fictício "Robert N. Webster" foi listado por muitos anos como editor. Palmer estabeleceu outra revista, Search, para competir com a Fate. Search se tornou um vale-tudo para as cartas inanes e artigos ocultos que não satisfaziam mesmo os baixos padrões de Fate.
Embora houvesse um breve reinteresse do público e da imprensa em discos voadores depois da grande onda do verão de 1952, o assunto permaneceu em grande parte nas mãos de cultistas, excêntricos, adolescentes e donas de casa que reproduziam recortes de jornal em pequenos diários mimeografados e viam Palmer como seu líder destemido.
Em junho de 1956, um grande simpósio de quatro dias sobre OVNIs foi realizado em Washington, D.C. Era inquestionavelmente o mais importante evento OVNI dos anos cinqüenta e foi freqüentado por militares destacados, funcionários do governo e industriais. Homens como William Lear, inventor do Lear Jet, e vários generais, almirantes e ex-membros da CIA discutiram livremente o "problema" OVNI com a imprensa. Notavelmente ausentes estavam Ray Palmer e Donald Keyhoe. Um dos resultados da reunião foi a fundação do Comitê de Investigação Nacional de Fenômenos Aéreos (NICAP) por um físico chamado Townsend Brown. Embora o simpósio tenha recebido extensa cobertura de imprensa na ocasião, foi subseqüentemente censurado da história OVNI pelos próprios cultistas OVNI - principalmente porque eles não haviam participado dele.8
O público americano conhecia apenas duas personalidades de discos voadores, o contatado George Adamski, um velhaco amável com um talento por obter publicidade, e Donald Keyhoe, um zelote que bradia "Encobrimento!" e estava preso em combate mortal com Adamski por cobertura de jornais. Uma vez que Adamski era o mais colorido (ele tinha andado em um disco até a Lua), ele normalmente recebia mais atenção. A imprensa lhe deu o título de "astrônomo" (ele morava em uma casa no Monte Palomar onde um grande telescópio estava em operação), enquanto Keyhoe o atacou como "o operador de uma loja de hambúrguer". Ray Palmer tentou permanecer indiferente das facções em guerra, assim naturalmente, alguns deles se voltaram contra ele.
O ano de 1957 foi marcado por vários desenvolvimentos significantes. Havia outra grande onda de discos voadores. O NICAP de Townsend Brown decaía e Keyhoe o assumiu. E Ray Palmer lançou uma publicação de banca de jornal nova chamada Discos Voadores De Outros Mundos [Flying Saucers From Other Worlds]. Nas primeiras edições ele indicou que conhecia algum "segredo" importante. Depois de atormentar seus leitores por meses, ele revelou finalmente que os OVNIs vinham do centro da terra e a frase De Outros Mundos foi retirada do título. Os leitores dele foram variadamente envolvidos, intimidados e tomados pela revelação.
Durante sete anos, de 1957 a 1964, a ufologia nos Estados Unidos estava em um limbo total. Esta era a Era Negra. Keyhoe e o NICAP foram enterrados em Washington, lutando em vão contra moinhos de vento e tentando iniciar uma investigação congressional na situação OVNI.
Algumas centenas de crentes em OVNI se agruparam ao redor da Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos (APRO) de Coral Lorenzen. E aproximadamente 2.000 adolescentes compravam Discos Voadores nas bancas de jornal cada mês. Palmer dedicou muito espaço a clubes OVNI, trocas de informação e cartas-para-o-editor. Assim foi Palmer, e Palmer sozinho que manteve o assunto vivo durante a Era Negra e atraiu novos jovens para a ufologia. Ele publicou seus estranhos livros sobre Deros, e dirigiu um negócio de vendas por correspondência de livros OVNI que tinham sido publicados depois de várias ondas dos anos cinqüenta. Os sócios dele na Fate o sustentaram, assim ele pôde dedicar seu tempo integral aos empreendimentos OVNI.
Palmer tinha montado um sistema semelhante ao fandom de sci-fi, mas com ele como o núcleo. Ele tinha percorrido um longo caminho desde seus primeiros dias com o Clube de Prêmio Júlio Verne. Ele tinha sido instrumental em inventar um sistema inteiro de crenças, um quadro de referência - o mundo mágico de Shaverismo e discos voadores - e ele tinha se fixado como o rei daquele mundo. Uma vez que o sistema de crenças foi montado ele se tornou auto-perpetuador. As pessoas assediadas por raios misteriosos foram acompanhadas de pessoas desejosas de que seres vivos e compassivos existiam lá fora além das estrelas. Eles não precisaram de qualquer evidência real. A própria crença era o bastante para sustentá-los.
Quando uma massiva nova onda de OVNIs - a maior na história norte-americana - ocorreu em 1964 e continuou inabalável até 1968, APRO e NICAP foram pegos desprevenidos e despreparados para lidar com o interesse público renovado. Palmer aumentou a edição de Discos Voadores e alcançou uma audiência nova. Então nos anos setenta, uma nova Era Negra começou. Outubro de 1973 produziu um aguaceiro de relatos com bastante publicidade e então as estagnações começaram. NICAP se afogou em sua própria confusão e se dissolveu em uma poça de apatia, junto com dúzias de organizações OVNI menores. Donald Keyhoe, um estadista muito velho, vivia recluso na Virgínia. A maioria do contatados esperançosos e investigadores OVNI dos anos quarenta e cinqüenta haviam falecido. Discos Voadores de Palmer se auto-destruiu sem estardalhaço em 1975, mas ele continuou com Search até sua morte em 1977. Richard Shaver morreu, mas o Mistério Shaver ainda tem alguns aderentes. Porém a triste verdade é que nada disto poderia ter ocorrido se Howard Browne não tivesse ridicularizado aquela carta naquele precário escritório editorial naquela distante cidade há muito tempo atrás.
Notas de rodapé
1. O livro de Donnelly, Atlântida, publicado em 1882, provocou uma onda de 50 anos de histeria por Atlantida ao redor do mundo. Até mesmo os personagens que se materializavam em sessões durante aquele período alegavam ser Atlantes.
2. O autor era fã de sci-fi ativo nos anos quarenta e publicou um fanzine chamado Lunarite. Aqui está uma citação de Lunarite datada de 26 de outubro de 1946:"Amazing Stories" ainda está tentando convencer todos que Monstros com Olhos de Inseto em cavernas dirigem o mundo. E eu estava culpando os Democratas. 'Grandes Deuses e Pequenas Térmitas' era o melhor conto nesta edição. Mas Shaver, autor do 'Terra de Kui', deveria deixar de escrever. Ele não é bom. E os editores de Amazing Stories deviam se juntar à turma do Sargento Saturno e parara de beber aquele Xeno ou os Monstros com Olhos de Inseto nas cavernas vai pegá-los".
Eu me lembro claramente da controvérsia criada pelo Mistério Shaver e o grande desdém com o qual os fãs hardcore o viam.
3. De Cheap Thrills: An Informal History of the Pulp Magazines por Ron Goulart (publicado por Arlington House, Nova Iorque, 1972).
4. É interessante que tantas vítimas deste tipo de fenômeno estivessem soldando ou operando equipamento elétrico como rádios, radar, etc. quando começaram a ouvir vozes.
5. Os famosos "foguetes fantasma" de 1946 receberam pouca atenção na imprensa norte-americana. Eu me lembro de levar um recorte minúsculo em minha carteira descrevendo foguetes misteriosos andando pelas montanhas da Suíça. Mas esse era o único relato de "foguete fantasma" relatório que encontrei aquele ano.
6. Eu assisti esta reunião, mas minha memória dela é vagas depois de tantos anos. Eu não posso recordar quem a patrocinou.
7. Algumas das revistas de ficção científica sobreviventes pagam agora (surpresa!) três centavos por palavra. Mas escrever sci-fi permanece um modo seguro de morrer de fome.
8. Quando David Michael Jacobs escreveu The UFO Controversy in America, um livro geralmente considerado a história mais completa da questão OVNI, ele escolheu revisar a história dos anos quarenta completamente, enquanto cuidadosamente excluía qualquer menção a Palmer, o simpósio de 1956 e muitos dos outros desenvolvimentos importantes durante aquele período.
Nenhum comentário:
Postar um comentário