Planos de Saúde crescem sem controle de atendimento Por Carolina Dall’olio São Paulo, 16 (AE) - Os planos de saúde privados estão livres para aceitar novos clientes sem que para isso tenham de ampliar sua rede de atendimento. E não há como fiscalizar a qualidade do serviço prestado, pois faltam parâmetros sobre o número ideal de usuários por quantidade de estabelecimentos de saúde credenciados pelas operadoras.
Nem mesmo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sabe dizer se a proporção atual entre usuários dos planos de saúde privados e os equipamentos disponíveis é adequada. "Hoje, não se sabe qual seria a quantidade ideal de leitos para atender a contento toda a rede de usuários de planos de saúde", admite Ceres Albuquerque, gerente-geral de Informação e Sistema da ANS, justificando que o cálculo seria muito complexo e teria de considerar uma série de variáveis.
Em abril, pela primeira vez no histórico de pesquisas da ANS a agência apurou a quantidade de hospitais, clínicas e prontos-socorros privados existentes no Estado de São Paulo. Diante dos novos dados, foi possível constatar que existe, por exemplo, um pronto-socorro especializado para cada 1,4 milhão de segurados. "Pesquisar os estabelecimentos de saúde existentes hoje já é o primeiro passo para que, no futuro, possamos estabelecer um parâmetro e melhorar a regulação do setor", afirma o gerente.
Sem investimentos
Para Márcio Bichara, secretário de Saúde Suplementar da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), a ausência desse indicador é a principal causa dos problemas que atingem os segurados de planos de saúde. "A maioria das pessoas que tem convênio sabe que a espera nos hospitais e consultórios só aumentou nos últimos anos", afirma Bichara. "E isso acontece porque a quantidade de conveniados cresceu sem que a rede privada de hospitais e clínicas tenha sido ampliada."
De 2006 a 2008, mais de 1,2 milhão de pessoas entraram para o sistema privado de saúde no Estado de São Paulo - hoje, são 16,8 milhões de segurados. Mas não se pode dizer quantos novos hospitais a região ganhou nesse período - a ANS não apurou esse dado nos anos anteriores e nenhum outro órgão, público ou privado, parece dispor da informação.
"Não há como medir o problema, mas é triste constatar que o segurado de plano de saúde que reclamar de demora no atendimento estará desamparado pela legislação", reconhece Renata Molina, técnica da Fundação Procon-SP. "O máximo que o Procon pode fazer é pressionar a empresa para que ela atenda seu cliente o mais rápido possível. Mas hoje não temos base legal para exigir mudanças efetivas no sistema e acabar com o problema de atendimento de uma vez por todas."
É o que constata o vendedor José Barbosa de Oliveira. Desde outubro do ano passado, o cliente da Avimed luta para conseguir marcar a cirurgia para retirada de uma bala alojada no pé - instalada desde um assalto sofrido por ele há 3 anos. "Cada vez que vou me consultar demoro mais de uma hora para ser atendido", conta. "E mesmo com a recomendação médica dizendo que a cirurgia é urgente, não consigo ser operado."
"Falta demanda"
Solange Beatriz Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde), argumenta que mesmo sem uma limitação estabelecida pela Agência Nacional de Saúde, não é de interesse das operadoras abarrotar sua rede de atendimento.
"Nenhuma empresa vai querer acabar com sua reputação ao deixar seus clientes desassistidos", diz. Ela também ressalta que as empresas filiadas à Fenasaúde apresentam uma proporção paciente/hospital bem inferior à apontada pela ANS.
Para Solange, a rede de atendimento será ampliada se houver demanda para isso. "Os administradores de hospitais só não aumentariam a rede caso não houvesse mesmo clientes suficientes para preenchê-la", declara. A Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) não quis comentar o caso.
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