sábado, 27 de dezembro de 2008

Por Claudeir Covo e Paola Lucherini Covo

O fotógrafo profissional fluminense Almiro Baraúna, em 1954, após analisar detalhadamente as fotos de um suposto UFO na Barra da Tijuca, realizada por Ed Keffel e João Martins (ver O Caso Barra da Tijuca), e ter concluído que se tratavam de dupla exposição, acabou fazendo diversos truques fotográficos na tentativa de repetir o feito. Os resultados de seus testes foram publicados junto de um texto de Vinícius Lima na revista "Mundo Ilustrado" com o título Um Disco Voador Esteve na Minha Casa. Na época, isso foi muito comentado pela imprensa carioca. Baraúna mal sabia que, quatro anos depois, iria se envolver pessoalmente em uma oportunidade única de fotografar um disco voador de verdade. Mas pelo fato de ter dado uma aula de como fraudar fotos do gênero, foi muito criticado e questionado pela mesma imprensa.

Começava o Ano Geofísico Internacional de 1958, e em 16 de janeiro, a convite da Marinha brasileira, Almiro Baraúna juntou-se a tripulação do navio-escola Almirante Saldanha, para pesquisar a Ilha de Trindade, no litoral do Espírito Santo. O navio estava atracado, preparando-se para retornar ao continente, quando algo aconteceu. Baraúna, então com 43 anos, tinha batido algumas fotos do cenário um pouco antes e estava deitado no convés, passando mal. Tinha uma forte dor-de-cabeça e enjôo. De repente, por volta das 12:15 horas, percebeu uma grande movimentação na embarcação. Os marinheiros chamavam sua atenção para algo luminoso no céu. O capitão Viegas, da Aeronáutica, abordou Baraúna e pediu para que fotografasse aquele misterioso objeto aéreo. Rapidamente, Baraúna pegou a sua máquina Rolleiflex e conseguiu fazer seis fotografias. Perdeu duas fotos, a quarta e a quinta, devido a velocidade do objeto e agitação do convés.

O objeto registrado, em forma de planeta Saturno, veio do mar, sobrevoou a ilha, passou sobre a ponta da Crista do Galo e depois sobre o monte Desejo, e escondeu-se atrás de um morro. Mas reapareceu novamente do outro lado, retornou para o mar, parou e em seguida disparou em altíssima velocidade, como se fosse um foguete. Era completamente silencioso. O fato não durou mais que 14 segundos, mas 48 testemunhas observaram tudo o que aconteceu, perplexas, e entre elas marinheiros, sargentos e oficiais. Como civis, estavam no navio o advogado e funcionário do Banco do Brasil Amilar Vieira Filho, o funcionário do Banco de Londres Mauro Andrade, José Teobaldo Viegas, então capitão da reserva da FAB, industrial e diretor de um Aeroclube carioca, um cidadão conhecido apenas como Aloísio e o professor de geologia Fernando. Todos eram da equipe do Clube de Caça Submarina de Icaraí, em Niterói (RJ).

Após o objeto desaparecer, outras pessoas também começaram a passar mal, como já vinha acontecendo com Baraúna. Ele sentiu o coração disparado, tremedeira e sensação de vazio acompanhada de suor frio. Depois de uma hora, já recuperado do susto, foi perguntado pelo comandante do navio se tinha conseguido fotografar o objeto. Baraúna disse que sim. Resolveram, então, preparar um revelador no pequeno laboratório improvisado a bordo. Assim, o filme foi revelado na hora. Todas as 48 testemunhas confirmaram que as imagens que surgiram nas quatro poses do negativo eram exatamente iguais ao objeto que viram sobrevoando a ilha. Quando o UFO sobrevoou o Almirante Saldanha, toda a parte elétrica da embarcação pifou, as lâmpadas ficaram fracas e o rádio sem sinal. Após o navio partir, o comandante chamou Baraúna para conversar em particular e disse que as fotos seriam dele. Disse também que, antes de divulgá-las, ele teria que ir à Marinha prestar depoimento. Quando o navio chegou a Vitória (ES), tendo que permanecer atracado no porto por dois dias, Baraúna, que não podia esperar, acabou retornando para Niterói de ônibus. Lá chegando, foi direto a um laboratório, onde ampliou as fotos a partir do negativo já revelado. Quatro dias depois, um comandante da Marinha o procurou para que comparecesse à sede do então Serviço Secreto da Armada, no Rio de Janeiro.

AS FOTOS DE ALMIRO BARAÚNA

PRIMEIRA FOTO

PRIMEIRA FOTO – CLOSE NO UFO

SEGUNDA FOTO

SEGUNDA FOTO – CLOSE NO UFO

TERCEIRA FOTO

TERCEIRA FOTO – CLOSE NO UFO

QUARTA FOTO

QUARTA FOTO – CLOSE NO UFO

A TRAJETÓRIA DO OBJETO

Ele levou Baraúna até lá, onde foi sabatinado por um grupo de oficiais a respeito de truques fotográficos, fotografias aéreas e muitas outras coisas. Ficou lá das 08:00 às 16:00 horas, pois os militares queriam ter certeza da autenticidade das fotos. Pediram os negativos emprestados a Baraúna, que os cedeu, e os levaram até o laboratório aerofotográfico da empresa Cruzeiro do Sul. Depois, os enviaram a Kodak, em Rochester, Estados Unidos, para maiores análises. Os negativos foram testados por equipamentos eletrônicos e processos químicos, não se encontrando neles qualquer tipo de fraude. Assim, com autorização do então presidente Juscelino Kubitschek, as fotos de Baraúna foram liberadas para divulgação pelo almirantado da época, depois de um mês, em uma quarta-feira de cinzas. Todas as rádios estavam noticiando que o jornal "Correio da Manhã" iria publicar um furo fotográfico mundial em sua edição seguinte.

Mas Baraúna entrou em contato com João Martins, que o convenceu a levar a matéria para a redação da revista "O Cruzeiro", para que a notícia das fotos fosse nela publicada. Em linguagem jornalística, o "Correio da Manhã" foi furado pelo "O Cruzeiro". Foram posteriormente feitas 40 cópias das imagens e distribuídas para todos os jornais do Rio de Janeiro, para publicação. Muitos deles, em várias edições, estamparam as fotos, depoimentos, análises, dados, reportagens, etc. Dias depois, Baraúna descobriu que o "Correio da Manhã" acabara conseguindo as fotos diretamente da Marinha – as cópias que ele mesmo tinha cedido, carimbadas com "reservado".

O relatório oficial do almirante-de-esquadra Antônio Maria de Carvalho, chefe do Alto Comando Naval, conhecido como Documento Confidencial nº 0098/M-20, descreve os seguintes detalhes acerca das fotos obtidas na Ilha de Trindade: "Enfim, foi registrado mais outro alarme de OVNIs, às 12:15 horas do dia 16 de janeiro de 1958. Dessa vez, aconteceu a bordo do Almirante Saldanha, ancorado ao largo da Ilha da Trindade. O navio estava prestes a zarpar e a pinaça (pequeno barco aberto) usada para a travessia até a terra estava sendo recolhida por membros da tripulação quando, de popa a proa, soou o alarme". O documento continua dizendo que um fotógrafo profissional civil, que se encontrava a bordo registrando o recolhimento da pinaça, teve sua atenção chamada para o disco voador, do qual obteve as quatro fotos. "Após o aparecimento, o fotógrafo Almiro Baraúna retirou o filme da câmera na presença do capitão-de-corveta Carlos Alberto Bacellar e de outros oficiais (...), e o mesmo foi revelado dentro de dez minutos".

O almirante Carvalho também informa, através de seu relatório, que em seguida os negativos foram examinados pelo próprio Bacellar. Este confirmou que os mesmos ainda estavam molhados ao serem entregues para exame. "Neles reconheceu o OVNI em apreço", enfatiza o documento oficial. "Em seguida, os negativos foram mostrados a membros da tripulação, testemunhas oculares do aparecimento. Eles confirmaram que as imagens nos negativos eram idênticas ao que avistaram no ar". Estava chancelada oficialmente a legitimidade das fotos de Baraúna. Assim, com autorização do Ministério da Marinha, o depoimento prestado pelo capitão Bacellar foi liberado para publicação pela imprensa. Ele conta que, efetivamente, um UFO foi avistado do convés do Almirante Saldanha. "Pessoalmente, não testemunhei aquele aparecimento porque, no preciso instante, encontrava-me no interior de minha cabine. Porém, imediatamente fui chamado para a ponte". Mesmo assim, Bacellar confirmou que Baraúna estava no convés com a sua câmera e que, após a ocorrência, ficou em estado de exaustão nervosa. "Permaneci ao seu lado o tempo todo, porque queria presenciar a revelação do filme".

Com um farolete a pilha, Viegas acompanhou atentamente a revelação do filme, no pequeno laboratório improvisado, enquanto Bacellar, ao lado de fora, esperou que terminasse. Ambos concluíram que o negativo mostrava com precisão a seqüência de vôo do objeto não identificado sobre a ilha. Como foi previamente combinado, Bacellar procurou Baraúna no Rio de Janeiro e, por duas vezes, o acompanhou até o Ministério da Marinha. "Chamei a atenção do fotógrafo para o fato de ser estritamente proibida a publicação das fotos sem autorização oficial, e informei que ele seria avisado tão logo as autoridades competentes resolvessem liberá-las para divulgação". No calor dos acontecimentos, em 24 de fevereiro de 1958, o então ministro Alves Câmara comentou numa entrevista à agência "United Press" que a Marinha brasileira estava envolvida num importante segredo, que não poderia ser discutido em público, visto que, para tanto, não havia ainda explicação sobre os discos voadores. "Mas a prova fotográfica apresentada por Almiro Baraúna convenceu-me da sua existência", garantiu.

Naquele mesmo dia, o capitão-de-fragata Moreira da Silva declarou que não queria ver qualquer discussão a respeito do caráter do fotógrafo que havia feito as fotos do UFO, pois o objeto também havia sido observado por uma série de personagens conhecidos e respeitáveis. "Posso garantir que as fotos são autênticas e o filme foi revelado imediatamente, a bordo do Almirante Saldanha. Confirmo ainda que os negativos foram examinados por diversos oficiais, logo após a revelação. Assim, fica excluída qualquer eventualidade de truque fotográfico". Com base na análise dos negativos e dos detalhes relatados pelas testemunhas, peritos conseguiram calcular a velocidade mínima do UFO como sendo em torno de 1.200 km/h.

Mas essa velocidade aumentou de forma considerável quando o objeto acelerou. Seu tamanho foi estimado em quarenta metros de diâmetro e sete metros de altura. Enfim, como se vê, estamos diante de um caso absolutamente genuíno. A própria posição das autoridades brasileiras é um assombro. "Pouco importa qual seja a nossa atitude diante dos OVNIs, pois persiste o fato de ter ocorrido um fenômeno que, além de documentado por fotos, foi confirmado pelo depoimento escrito de 48 testemunhas", declarou oficialmente o capitão Moreira da Silva. O Ministério da Marinha, através do Comando de Operações Navais, fez um relatório secreto detalhado sobre o incidente na Ilha da Trindade. Na época, o deputado Sérgio Magalhães queria ter informações sobre o documento, mas ele não foi liberado. O curioso é que tal relatório só veio a público em outubro de 1971, num artido de Jorge C. Pineda, publicado em uma revista Argentina. Nele, aparecem correspondências trocadas entre os oficiais Luiz Felipe da Luz e Antônio Maria de Carvalho, que novamente endossam o evento. Há no artigo também um pedido de informações sobre o assunto assinado por M. Sunderland, então agregado naval dos Estados Unidos no Brasil. Estranhamente, após tudo o que as autoridades brasileiras garantiram sobre o fato, o relatório secreto inexplicavelmente diminui a sua importância. Suas conclusões, endossadas pelo capitão-de-corveta José Geraldo Brandão, do Serviço de Inteligência da Marinha, são de que as testemunhas confirmam a mesma coisa.

Mas o documento diz que "a maioria dos informes apresentados é insuficiente, sobretudo a falta de idoneidade técnica de muitos dos observadores e a breve duração do fenômeno observado, de modo que nenhuma conclusão pode se obter sobre terem avistado objetos voadores não identificados". O relatório diz ainda que a mais importante e valiosa prova apresentada, a fotografia, de alguma maneira perde sua qualidade convincente, devido à impossibilidade de se afastar totalmente uma montagem prévia.

Os ufólogos até hoje se perguntam o que fez os militares brasileiros esvaziarem a questão tão abruptamente. A adoção de uma posição dúbia é realmente contraditória. Embora afirme a importância do fato, o relatório desqualifica alguns de seus detalhes. E deixa transparecer uma cuidadosa tendência à aceitação do incidente quando afirma que "finalmente, a existência de informes pessoais e de evidências fotográficas, de certo valor considerando as circunstâncias envolvidas, permite a admissão de que há indicações da existência de objetos voadores não identificados". Sua última conclusão é, na verdade, uma sugestão que faz o relator para que as autoridades do Alto Comando da Marinha passem a levar em consideração todas as informações que se obtenha sobre o fenômeno UFO, "com vistas a se alcançar conclusões acima de toda dúvida".

Eng. Claudeir Covo é ufólogo e presidente do INFA
Paola Lucherini Covo é diretora do INPU (www.inpubr.com.br) e do INFA

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