No início de 2009, uma equipe de cientistas confirmou a primeira detecção de gás metano na atmosfera marciana, indicando que o planeta poderia até mesmo abrigar algum tipo de vida. No entanto, novas evidências mostram que o gás detectado desaparece muito mais rápido do que deveria, sugerindo que existe algo no planeta que é hostil à matéria orgânica.
"Os cálculos mostram que a destruição do gás é 600 vezes mais rápida do que o imaginado, o que significa que a geração do metano também precisa ser 600 vezes maior para compensar a perda, mas isso não ocorre.", Disse o cientista Franck Lefèvre, da Universidade Pierre e Marie Curie, de Paris.
Para chegar a essa conclusão Lefèvre e François Forget desenvolveram um novo modelo climático para Marte, que ajuda a compreender o comportamento do gás na atmosfera do planeta. O resultado do estudo foi publicado essa semana na revista científica Nature e segundo seus autores reproduz fielmente as condições atmosféricas do planeta.
O gás foi detectado pela primeira vez em 2003 através do telescópio infravermelho ITF (Infrared Telescope Facility) da Nasa e do telescópio W.M. Keck, ambos localizados na ilha de Mauna Kea, no Havaí A assinatura típica do gás foi obtida com o uso de espectrômetros acoplados ao instrumento que mostraram a existência de três linhas espectrais de absorção e que juntas confirmaram a presença de metano.
No entanto, o resultado apresentado pelo novo modelo francês mostrou que a química do metano, como entendida atualmente, não explica a distribuição do gás como proposta pelos cientistas americanos.
O metano
O metano é formado por quatro átomos de hidrogênio ligados a um átomo de carbono e é o principal componente do gás natural existente na Terra. Grande parte dos organismos vivos libera o gás após a digestão dos nutrientes, o que torna a detecção particularmente importante aos astrobiólogos. No entanto o gás também pode ser formado a partir de processos geológicos como a oxidação do ferro.
Tanto na Terra como em Marte, o metano apresenta uma vida muito curta, uma vez que é destruído pela radiação solar em pouco tempo e é exatamente por esse motivo que é usado como indicador de vida, já que sua presença sugere que algum mecanismo biológico ou geológico, está repondo a quantidade destruída. No entanto, o modelo de Lefèvre mostra que uma vez presente na atmosfera o metano está sumindo muito mais rápido do que o estimado: ao invés de desaparecer em 300 anos está sumindo em apenas 200 dias.
Hipótese
Uma das hipóteses apresentadas para explicar esse rápido desaparecimento seria a presença de partículas eletricamente carregadas na atmosfera de Marte e que agiriam como um acelerador da destruição, mas os trabalhos de Lefèvre não sustentaram essa afirmação. Segundo o estudo, caso os campos fossem fortes o suficientes para destruir o metano no ritmo mostrado, haveria a geração inevitável de subprodutos, entre eles o monóxido de carbono, que não foi detectado pelas sondas que estão em órbita do planeta.
O estudo de Lefèvre mostra que se a destruição do metano não estiver acontecendo na atmosfera e sim na superfície, a situação é ainda pior, já que a perda do gás passaria a ocorrer em poucas horas ao invés de centenas de dias. Neste caso, algum processo altamente hostil à presença de matéria orgânica estaria ocorrendo na superfície.
Questionado se essa rápida deterioração do gás não poderia ser um sinal de vida, causado por algum micro-organismo "comedor" de metano, Lefèvre disse: "Pode ser que sim e pode ser que não. Existem alguns tipos recém descobertos de micro-organismos que fazem isso aqui na Terra - os metanotrofos - mas pouco se sabe sobre eles".
Mais sondagens
Duas novas naves estão sendo preparadas para estudar com mais profundidade o ambiente marciano. Para 2011 a Nasa enviará ao Planeta Vermelho o laboratório MSL (Mars Science Laboratory) e em 2018 é a vez da Esa (Agência Espacial Européia) descer na superfície do planeta com a sonda Exomars.
Quando em operação, a Exomars deverá perfurar até dois metros abaixo da superfície e será a maior profundidade já escavada por explorador robótico no planeta e revelar se algum material orgânico foi ali preservado ali, mas segundo Lefèvre, condições mais adequadas para a vida podem existir muito mais abaixo disso.
Artes: No topo, região dos Twin Peaks, como registrado pela sonda Mars Pathfinder em julho de 1997. Acima, imagem mostra os níveis de concentração de metano na atmosfera marciana. De acordo com os pesquisadores a média estimada é de aproximadamente 500 gramas por segundo ou 43 toneladas por dia. Créditos: JPL/NASA/Apolo11.com
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